#4 Diário de Reclamações
esse aqui é só para as meninas mulheres. homens, leiam com descrição e favor não tumultuar.
Em 2015 eu entrei num grupo de Facebook em que mulheres expunham (que palavra feia) homens fazendo homices. Nada demais, mensagens esquisitas, dates ruins, memes zoando homens. Eventualmente surgia um ou outro post mais sério, do tipo “isso aqui que sofri foi assédio?”. Também rolava muitas discussões sobre feminismo, feminilidade, corpo, racismo e todos os assuntos que fazem parte da esfera do “ser mulher”. Era um bom grupo até que, como tudo no facebook, deu uma esfriada e hoje só é usado pra pedir ajuda com “dor de barriga” #iykyk.
Digo sempre que minha jornada feminista começou aí. Quando a gente é jovem e descobre que o mundo não é um morango, existe uma certa urgência em ser revolucionário de alguma forma. A minha foi ser feminista. Mas feminista de verdade, de tentar subverter absolutamente todos os papéis que tentavam me empurrar goela abaixo só por ter nascido mulher. Estudei o Segundo Sexo, li O Mito da Beleza, o Manifesto SCUM, e lia muito o que outras mulheres tinham a dizer sobre o que elas achavam que havia de errado com o mundo dos homens. Cortei o cabelo, excluí homens do meu convívio social (quando possível), parei de me depilar, e usava o facebook pra conectar mulheres que precisavam de ajuda com aquelas que podiam ajudar. Fazia tudo o que estava ao meu alcance aos 19 anos. Queria ser percebida como uma mulher que não estava disponível para homens de nenhuma maneira e fiz tudo o que pude.
Eventualmente, a idade e a vida entraram na frente disso. Final da faculdade, trabalho, mudança de cidade, fim de relacionamento, etc. E o que sobrou comigo do feminismo foi apenas o conhecimento e a maldição de estar consciente da minha condição de mulher no mundo. E é sobre isso que eu gostaria de reclamar hoje: saber que ser mulher é um tormento não deveria virar “eu odeio ser mulher”.
Nas últimas semanas lembro de ter visto pelo menos uns 3 textos aqui no site de mulheres incomodadas com a sua condição de mulher e proferindo barbaridades como “eu odeio ser mulher por causa dos homens”. Não me entendam mal, todas as reclamações que vi são completamente razoáveis. Elas iam desde homens sendo inconvenientes, esquerdomachos misóginos, ter seu trabalho descreditado por um homem, até assédios moral e sexual. Estão certíssimas em reclamar disso tudo. Mas talvez eu tenha uma notícia chocante pra você, querida escritora que odeia ser mulher: os homens não vão se comover com suas palavras e as mulheres já estão carecas de saber que a nossa vida é essa merda.
Meu apelo aqui é o seguinte: pare de buscar aprovação de homem e de esperar que os homens tornem sua vida menos miserável. Eles não se importam. Mesmo os que dizem que sim, eles não têm sequer noção de que estão nos atrapalhando de alguma forma. Seu marido que lava a louça e aspira o chão sem você pedir não corrige piada machista do colega no fut de quarta-feira.
A maior parte das “agressões” que sofremos enquanto mulheres durante a vida, são aquelas pequenas. Aquele comentário que ele faz pra te fazer sentir menos inteligente que ele, pra te fazer perder um pouquinho só de autoconfiança, te fazer duvidar da sua própria realidade mas sem perder completamente o juízo. Nem sempre é uma agressão física ou sexual. Na maior parte das vezes não é. Vide a discussão atual do meio literário. E esse poder você pode tirar da mão dele.
Já dizia Andrea Dworkin "Minha prece para as mulheres do século XXI: endureçam seus corações e aprendam a matar". Mesmo que simbolicamente. Não espere que ele se interesse pelo seu trabalho, pelo seu intelecto, pelo seu corpo. Não leve o “interesse” dele como parâmetro de qualidade. Aprenda a matar: despreze-o como ele te despreza. Juro pra você que ele não se importa com nada do que você pensa sobre ele. Ele provavelmente nem considera que você possa ter uma percepção negativa dele. Ele é homem, o melhor de todos que ele conhece, provavelmente.
Se você leu isso daqui e tá pensando “nossa, mas não quero excluir homens da minha vida e ficar sozinha”, te falta amigas mulheres. Procure um grupo de mulheres que se interesse pelas mesmas coisas que você e construa sua vida ao redor disso. Busque companheirismo, validação e apoio nelas. Não acredite que você vai encontrar o alecrim dourado que é capaz de amar uma mulher de verdade. Pode até acontecer, mas vai ser bem difícil.
“Mas Carol e meu chefe, minha carreira, os homens do meio corporativo?”. Eu particularmente não tenho pretensão nenhuma de ser uma grande girlboss corporativa, não meço meu sucesso pela minha carreira, mas aí é uma coisa particular minha. Se você mede, então aceita que você vai ter que ser 3x melhor que qualquer homem medíocre concorrendo com você e seja de fato melhor. Mas de novo, não dependa da validação deles para se sentir bem sucedida, porque eles não se importam. O capitalismo inteirinho é feito pra que homens se deem bem e a gente se foda. Não existe reformismo, equidade salarial ou qualquer outra merda bonitinha que eles inventam que vá resolver isso. A liberação efetiva da classe das mulheres anda de mãozinha dada com o fim do capitalismo. E ainda sim tenho minhas dúvidas, vendo como homens ditos “comunistas” se comportam.

Se esse texto soou conformista demais para você, me desculpe. Mas não sinto que temos tanto futuro pela frente quanto as feministas da segunda onda tinham. Um dos “donos do mundo” está fazendo saudação nazista televisionada mundialmente, sabe?
O período que me cerquei de mulheres, li mulheres, assisti mulheres, beijei mulheres, casei com mulheres eu de fato amava ser mulher. Eu ainda amo. Mesmo tendo medo de andar na rua, mesmo não bebendo em balada com medo de ser dopada, mesmo tendo passado por algumas situações de assédio e violência sexual, mesmo tendo ouvido que não servia pra uma vaga de emprego porque era numa fábrica e isso era trabalho pra homem. Nada disso é sobre mim, é sobre os homens. Admire mulheres e você vai se admirar também.
Saboreie minha hipocrisia:
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🤌🏼🤌🏼🤌🏼 eh isto ✨