Embora eu seja de 1996, muito da minha personalidade pode ser lida como Millennial na internet. Por exemplo: reclamar da vida adulta. Ser adulto é realmente muito frustrante porque nos prometeram outra coisa. Nos prometeram que se a gente fizesse uma faculdade e se dedicasse no trabalho, teríamos uma vida melhor que a dos nossos pais. Não necessariamente isso aconteceu. A diferença é que não temos filhos antes dos 30 e podemos aproveitar certos “luxos” tipo pedir uma pizza sábado a noite. Eu, por exemplo, trabalho e tenho uma vida razoavelmente confortável. Não tenho carro nem casa própria, mas consigo viajar uma vez por ano pelo menos com o dinheiro que seria pra criar um filho.
Uma das partes de ser adulto que me muito me irrita é manter uma casa. Tanto financeiramente quanto fisicamente, mesmo. Limpar, organizar, comprar móveis, deixar com ~cara de casa~ dá muito trabalho e é uma tarefa ingrata. A louça nunca está limpa. Se você também tiver um pet, seu chão sempre terá pelos e outras sujidades. Sempre vai ter uma roupa pra lavar, ou pior: pra tirar do varal. Arrumar a cama é tarefa diária. Sempre tem algo precisando de remendo, concerto ou reforma. Enfim, deu pra entender, né?
Não sei como foi a sua casa na infância mas a minha era impecável. Pelo menos eu lembro dela assim. Não podia ter bagunça de brinquedo, nem louça na pia. Minha mãe varria a casa todos os dias. A faxina semanal era obrigatória. Receber a roupa limpa e não organizar imediatamente no armário era um crime. Tudo sempre esteve muito em ordem, mas eu pouco tinha a ver com essa organização toda, o mérito é todo da senhora minha mãe. Quando saí de casa, o primeiro instinto foi “vô arrumar mais porra nenhuma”. Não durou muito. Eu mesma senti falta de viver num ambiente organizado e limpo e aí tive que ceder à vozinha da minha mãe na minha cabeça me mandando manter a casa perfeita e enxergando todas as sujeirinhas e bagunças que existem.
Depois de alguns anos vivendo sozinha, encheu o saco manter a casa perfeita. Dá trabalho demais. E eu consegui encontrar um meio termo do tipo dá pra ver que tem um esforço aqui pra manter organizada, mas não tá 100%. Só que isso nunca me deixou confortável. Eu odiava receber pessoas em casa e que elas pudessem reparar que os livros na estante estão empoeirados, que eu fiquei com preguiça de arrastar o fogão pra limpar o vão entre ele e o armário da pia essa semana, que eu não arrumei a cama hoje, que tem cabelo no ralo do meu banheiro, ou reparassem num tufinho de pelo de gato que ficou preso atrás da porta. Eu imaginava que elas fariam os mesmos comentários que a minha mãe se ela visse minha casa nesse estado.
Recentemente, comecei a conhecer mais pessoas e suas respectivas casas. Eu amo conhecer a casa dos outros e ver como a personalidade delas reflete no espaço que elas habitam. E não consigo expressar em palavras o alívio que foi notar que elas também não vivem na ala hospitalar que minha mãe gostava de viver. A casa delas tem pó nos cantinhos mais difíceis, aranhas no teto, uma loucinha na pia, uma baguncinha num cantinho da sala, pelo de pet no sofá. Ufa, aparentemente eu sou sim todo mundo e minha casa não é o lixão da Mãe Lucinda que minha mãe me fez acreditar que era. Teve um Réveillon que ela veio passar comigo aqui em casa e, enquanto eu cozinhava a ceia, ela arrastou todos os móveis da sala, varreu, aspirou e passou pano no chão, tirou pó dos móveis e deu uma esfregadinha no sofá, porque “não dá pra começar o ano nessa sujeira”.
Minha reclamação de hoje então, enquanto tufos de pelo de gato rolam no chão com o movimento do ventilador, é sobre a lenda da casa limpa e perfeita. Eu sei que dá pra levantar uma infinidade de discussões aqui acerca da origem dessa necessidade de limpeza, de como ela foi instaurada na nossa cultura, como a geração da minha mãe é mais afetada do que a minha por toda essa obrigação de manter a casa em ordem, mas não me importa. Hoje eu quero só reclamar de maneira rasa e botar a culpa diretamente na minha mãe, porque é a figura dela que me atormenta a cada gotinha de pasta de dente que fica na pia sem querer.
Que nos libertemos das amarras de uma casa impecável. Eu não vou trabalhar 44h semanais e passar meu domingo fazendo faxina. Também não vou entrar numa noia de arrumar um cômodo por dia, ou qualquer outra técnica de “manter organização” porque um pozinho nos livros e um pelo de gato no sofá nunca matou ninguém.
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